Edison ajudou a cunhar o termo bug relacionado à falhas em sistemas tecnológicos, que com o tempo também foi incorporado na área da programação, com auxílio de Grace Hopper e a equipe do Mark I e II.
Redator: Heitor Augusto Colli Trebien
Breve biografia de Edison
Thomas Alva Edison nasceu em 11 de fevereiro de 1847 na vila de Milan, em Ohio. Faleceu em 18 de outubro de 1931, em West Orange, em Nova Jersey. Sua biografia é repleta de criatividade, e ao longo da vida patenteou 1,093 inventos, o que é um recorde mundial de acordo com Josephson (2022).
Segundo o autor, Edison também foi quem criou um dos primeiros laboratórios de pesquisa industrial do mundo. Ele começou sua carreira em 1863, no início da indústria telegráfica, época em que as principais fontes de eletricidade eram as baterias com corrente de baixa-voltagem.
Antes de morrer em 1931, ele teve um papel crucial ao introduzir a era moderna da eletricidade. Ele criou laboratórios dos quais saíram o fonógrafo (1877), o transmissor de botão de carbono que é usado no alto-falante do telefone e no microfone. Também desenvolveu a lâmpada incandescente comercializável (1879), junto com um sistema elétrico comerciável de luz e energia com um gerador de alta eficácia.
Para compreender melhor o funcionamento da lâmpada incandescente, assista ao vídeo:
Além disso, contribuiu para a construção de uma ferrovia elétrica experimental e com elementos-chave para aparato cinematográfico, o motion-picture – imagens projetadas em série de modo a parecer um movimento único, em adição a várias outras inventividades.
Edison é filho de Samuel Edison Jr. e Nancy Elliot Edison, sendo o caçula da família, com mais seis irmãos. Bem cedo na infância, desenvolveu problemas auditivos, que foi atribuída à tendência familiar a ter mastoidite (infecção do osso mastóide, localizado atrás da orelha). A surdez dele, como Josephson (2022) defende, influenciou seu comportamento e carreira, sendo uma de suas motivações para seus inventos.
O pai de Thomas Edison (Samuel) trabalhou como faroleiro e carpinteiro no posto militar de Fort Gratiot, um forte próximo ao Port Huron, em Michigan, onde a família vivia em uma casa abastada. O menino estudou naquele município esporadicamente, o aproximado a um pouco mais de 2 anos. Por ter dificuldade de ouvir e ter um temperamento hiperativo, era normal sentir-se entediado nas aulas e seu percurso escolar foi desajustado.
Como o site Biography (2017) comenta, sua mãe, que também era professora, dedicou-se a educá-lo em casa e com o tempo, o rapaz desenvolveu um forte gosto pela leitura, o que o ajudou a ter seu próprio modo de pensar.
O trabalho nas ferrovias
Em 1859, deixou a escola para trabalhar como garoto de comboio (trainboy) na estrada de ferro entre Detroit e Port Huron. Quatro anos antes (aproximadamente 1855), a Central de Michigan iniciou a aplicação comercial do telégrafo como meio de controle de circulação de seus comboios.
Aos 12 anos, o menino decidiu trabalhar vendendo jornais para os passageiros da linha ferroviária de Grand Trunk Railroad. Assim, Edison tinha acesso aos boletins de notícias telegráficas e, sempre sabendo o que acontecia de antemão, criou seu próprio jornal: o Grand Trunk Herald:
Ainda segundo o Biography (2017), Edison também aproveitou o seu acesso às ferrovias para conduzir experimentos químicos em um pequeno laboratório que montou num vagão de bagagem de trem, que resultou em um incêndio químico. Foi expulso daquele comboio e precisou vender seus jornais em outras estações.
Barbara Maranzani (2020) comenta que, durante suas passagens, o rapaz havia se tornado amigo de James U. Mackenzie, o mestre de estação e oficial de telégrafo do Mount Clemens. Aos 15 anos, em 1862, enquanto estava na estação de Mount Clemens, viu que o filho de James (de 2 anos) estava brincando nos trilhos, no momento em que os vagões de carga estavam sendo transferidos para uma pista lateral. Um deles estava indo em direção à criança em alta velocidade, mas Edison conseguiu tirá-lo do trilho antes que uma tragédia acontecesse. A dupla teve apenas ferimentos leves. Como recompensa pelo feito, James se ofereceu para ensinar Edison a usar o sistema telegráfico morse (criado pelo famoso Samuel Morse).
Com alguns meses de treinamento, Edison tinha se tornado proficiente no sistema de código morse, o que o ajudou a se tornar um operador de telégrafo em tempo integral. A Guerra Civil da época acabou por contribuir para a expansão dos transportes e da comunicação em larga escala, algo que Edison aproveitou para aprofundar seu conhecimento sobre o telégrafo. Em 1863, tornou-se oficialmente aprendiz de telégrafo.
No início, as mensagens em código morse eram uma série de traços e pontos escritos em papel que podiam ser decodificados e lidos, sendo assim, a surdez parcial de Edison não atrapalhou seu caminho. No entanto, com o desenvolvimento tecnológico, cada vez mais os receptores telegráficos estavam sendo equipados com chave sonora, o que possibilitava interpretar as mensagens pelos cliques.
A transformação do telégrafo numa arte auditiva acabou deixando Edison em desvantagem durante sua carreira de 6 anos como telegrafista itinerante nos diversos lugares pelos quais passou. Por ter uma capacidade altamente inventiva, dedicou-se a criar modos de usar e ampliar o telégrafo sem que sua deficiência o impedisse. Em 1869, Edison havia desenvolvido um telégrafo duplex, isto é, equipamento capaz de transmitir duas mensagens simultaneamente por fio. Acoplado a essa tecnologia, criou uma impressora que converte sinais elétricos em letras.
Casamentos
Em 1871 (com 24 anos), casou-se com Mary Stilwell, uma garota de 16 anos que era funcionária em um de seus negócios. Tiveram três filhos: Marion, Thomas e William. O casamento durou 13 anos e terminou quando Mary faleceu do que suspeitavam ser um tumor cerebral. Em seu certificado de óbito, como o National Historical Park de Nova Jersey afirma, está descrito que ela morreu de congestão do cérebro, enquanto outras referências sugerem que a causa foi a febre tifóide.
Casou-se uma segunda vez, em 1886, com Mina Miller, uma mulher 19 anos mais nova do que ele. Viveram juntos até o final de sua vida.
Aprimoramento do telégrafo
Em 1869, Edison se mudou para Nova Iorque, lugar onde conheceu Frank L. Pope, notável eletricista com quem criou a Edison Universal Stock Printer e outros telégrafos de impressão. Entre 1870 e 75, trabalhou como empreendedor independente em Newark, na Nova Jersey, mercado dominado pela Western Union Telegraph Company, companhia para a qual também trabalhou. Dedicou-se também a aprimorar o telégrafo automático das rivais da Western Uninon, o que no futuro traria brigas litigiosas. O aparelho funcionava a partir de transmissões elétricas que causavam reações químicas. Mesmo que o sucesso comercial tenha sido limitado, ofereceu as bases para a criação da caneta elétrica e do mimeógrafo (patenteado por Edison em 1887).
Sob proteção da Western Union, desenvolveu o quadruplex, telégrafo que podia transmitir quatro mensagens simultaneamente através de um fio. No entanto, Jay Gould – barão das ferrovias e financista de Wall Street – e também concorrente da Western Union, comprou o dispositivo em 1874. Ele pagou a Edison mais de 100.000 dólares em dinheiro, títulos e ações, o maior pagamento já feito por uma invenção até aquele tempo, o que gerou anos de briga litigiosa.
Em 1876, Edison se mudou para os arredores do Parque de Menlo (Menlo Park), em Nova Jersey, com a ajuda financeira de seu pai, que construiu para o filho um laboratório de dois andares e meio e uma oficina mecânica. Junto com ele, além de sua esposa (Mary Stilwell), dois parceiros o acompanharam: Charles Batchelor e John Kruesi. Batchelor era um excelente mecânico e desenhista e ajudava Edison em projetos auditivos, como o telefone e o fonógrafo. Já Kruesi aprimorava os desenhos de Edison e os transformava em modelos de base a serem seguidos.
Edison fez experimentos com cabos subaquáticos para o telégrafo automático e descobriu que a resistência elétrica e a condutividade do carbono (chamado na época de plumbago) variava de acordo com a pressão a que estava submetido. Em 1877, ele aproveitou essa descoberta para ampliar e melhorar a acústica do telefone, invento que Alexander Graham Bell patenteou em 1876. No final de 77, Edison havia desenvolvido o transmissor de botão de carbono, que foi usado nos microfones e nos alto-falantes dos telefones por um século.
O fonógrafo
Como Josephson (2022) comenta, o fonógrafo foi provavelmente uma das suas invenções mais originais. O único modelo que existia semelhante ao de Edison foi encontrado na França, em um artigo de Charles Cross, também de 1877. No entanto, como o pesquisador francês era pobre e não foi reconhecido em vida, não pôde patentear a invenção e não tinha recursos para criar a máquina, que ficou na teoria. Também existiam algumas diferenças nas ideias de cada um dos autores, sendo assim, a patente ficou no nome de Edison em 1878. Por essa e outras invenções, foi apelidado de Wizard of Menlo Park – “O mágico do Parque de Menlo”.
Neste mesmo ano, Edison fundou a Edison Speaking Phonograph Company e tentou comercializar o dispositivo, que em parte deu certo. O problema é que, além de ser difícil de operar, a folha de estanho, usada para gravar e reproduzir o som, estragava muito rápido. No final de 1878, Edison acabou deixando de lado o fonógrafo por 10 anos para investir seu tempo na lâmpada elétrica incandescente.
Insetos, insetos e mais insetos no meu telefone!
Laskow (2018) comenta que, em 1878, além de investigar o fonógrafo, Edison também fazia pesquisas para propor melhorias ao telefone e para competir com Alexander Graham Bell e sua nova empresa de comunicação. Em 3 de março de 1878, o pesquisador enviou uma carta a William Ortom, o presidente da empresa Western Union, para discutir o novo design do telefone, carta que foi disponibilizada na íntegra pela Swann Auction Galleries e que pode ser vista logo abaixo:
Ao lermos o início da carta, podemos perceber que ele encontrou um inseto – bug – do tipo callbellum que interferia no funcionamento dos telefones. Uma possível tradução da carta seria:
“Menlo Park, 3 de mar. de 78
Wm Orton Esq
Estimado senhor
Você estava parcialmente correto, eu encontrei um “bug” no meu aparelho, mas não estava propriamente no telefone. Era do gênero “callbellum”. O inseto parece encontrar condições para sua existência em todos os aparelhos telefônicos de chamada. Outro atraso foi o adoecimento da esposa de Adam. Eu pretendo te presentear com um fonógrafo de primeira classe para sua casa, para reproduzir música e etc, esse aparelho vai funcionar com um motor de relógio. Eu também vou colocar um na sala chamada “Sala experimental”, se tiver a gentileza de me informar onde ela está. Eu espero que você possa encontrar tempo em alguma tarde para ver minha sala de experimentos (sem mesas ocupadas por matemáticos) e ouvir um bom fonógrafo cantando e falando.
Sinceramente,
Tmas A. Edison”
Nesta carta, podemos notar que Edison usou o termo “bug” para se referir à falhas no sistema telefônico. O inseto provavelmente estava entre os cabos que conectavam o receptor e o transmissor. Laskow (2018) realça que antes do telefone e do fonógrafo, Edison já usava o termo dessa maneira. No início de 1870 o cientista já o usava quando desenvolveu o quadruplex, que precisava de uma armadilha de insetos para funcionar de modo apropriado.
Em 1878, Edison já havia incorporado a expressão no seu vocabulário – seus cadernos de anotações já usavam o jargão para se referir aos problemas de funcionamento das máquinas. Além disso, o empreendedor difundia a gíria para outras pessoas, como Orton.
A lâmpada incandescente
Edison não foi o primeiro cientista a criar a lâmpada, mas ele trouxe a tecnologia que permitiu popularizá-la para o público. Ele buscou aprimorar a invenção de Humphry Davy da primeira lâmpada de arco elétrico do início do século XIX.
Antes de Edison, outros cientistas haviam tentado aperfeiçoar a lâmpada elétrica, como Henry Woodward e Mathew Evans. Edison comprou a patente desses inventores e conseguiu tornar a lâmpada comercialmente viável, e recebeu a própria patente de sua lâmpada em 1879.
Em 1880, dedicou-se a criar uma empresa que poderia fornecer eletricidade para iluminar as casas ao redor do mundo, a Edison Illuminating Company. Mais tarde, ela se tornou a General Electric.
Em 1881, deixou Menlo Park para estabelecer sedes de sistemas elétricos em diferentes cidades, dentre elas Manhattan. No ano seguinte, a estação de Pearl Street fornecia 110 volts de energia elétrica para 59 clientes da parte baixa de Manhattan.
Últimas invenções e o final de sua vida
Em 1887, fundou um laboratório de pesquisa em West Orange, em Nova Jersey, que serviu de base para as pesquisas das companhias de luz de Edison, lugar que também o ajudou a aprimorar o fonógrafo, a bateria alcalina e desenvolver investigações sobre a câmera cinematográfica.
Seus negócios eram muito grandes e complexos, e nem sempre ele se sentia bem ao administrá-los. Preferiu contratar pessoas para fazer isso e dedicou-se a fazer pesquisas em lugares mais íntimos, menores e com um grupo pequeno de associados.
Em 1890, construiu uma usina magnética de processamento de minério de ferro no norte de Nova Jersey, no entanto, não obteve bons resultados comerciais. Apenas mais tarde obteve melhores resultados para a produção de cimento.
Dentre outras patentes, é considerado o construtor do Kinetoscópio junto com seu associado W. K. L. Dickson, também foi a primeira pessoa a projetar um filme (em Koster & Bial’s Music Hall, Nova Iorque). Criou a empresa Edison Films, desenhou uma bateria de carros especificamente para seu amigo – Henry Ford –, que acabou sendo substituída pelo motor à gasolina.
Também trabalhou para o exército, como o site Biography (2017) comenta. No entanto, por não gostar de violência, só contribuiu para projetos defensivos, como detectar submarinos e técnicas para localizar armas.
Em 1920, viajou com sua esposa para seu retiro na Flórida, o Fort Myers. Lá, aprofundaram sua amizade com Henry Ford e manteve-se trabalhando em outros projetos.
Em 1931, Edison faleceu com 84 anos, na sua casa, com problemas oriundos da diabetes. Muitas comunidades desligaram as luzes de suas em sua homenagem.
Referências para a biografia de Thomas Edison
BIOGRAPHY. Thomas Edison Biography (1847–1931). Biography, 27 abril 2017. Disponível em: https://www.biography.com/inventor/thomas-edison. Acesso em: 29 set. 2022.
JOSEPHSON, Mathew. Thomas Edison. Britannica, 17 ago. 2022. Disponível em: https://www.britannica.com/biography/Thomas-Edison. Acesso em: 29 set. 2022.
MARANZANI, Barbara. Thomas Edison’s Near-Death Experience Set Him on the Road to Fame. Biography, 15 out 2020. Disponível em: https://www.biography.com/news/thomas-edison-train-accident-young-boy-saved-telegraph. Acesso em: 4 out. 2022.
NATIONAL Park Service. Edison Biography. National Park Service, 26 fev. 2015. Disponível em: https://www.nps.gov/edis/learn/historyculture/edison-biography.htm. Acesso em: 29 set. 2022.
Referências em língua inglesa (posts informativos)
ECHEVERRIA, Delvis. First actual case of bug being found. Medium, 21 ago. s. d. Disponível em: https://medium.com/@delvisecheverria/first-actual-case-of-bug-being-found-d59475aa3a58. Acesso em: 29 set. 2022.
ECHEVERRIA, Delvis. The Origins of the Term Bug. Medium, 28 ago. s.d. Disponível em: https://medium.com/@delvisecheverria/the-origins-of-the-term-bug-5c4099c6216a; Acesso em: 29 set. 2022.
GRUENBERGER, Fred. Bug. Encyclopedia of Computer Science. ACM Digital Library, John Wiley and Sons Ltd., GBR, 162. 2003. Disponível em: https://dl.acm.org/doi/abs/10.5555/1074100.1074181. Acesso em: 29 set. 2022.
LASKOW, Sarah. Thomas Edison Was an Early Adopter of the Word ‘Bug’. Atlas Obscura, 16 mar. 2018. Disponível em: *https://www.atlasobscura.com/articles/who-coined-term-bug-thomas-edison. Acesso em: 29 set. 2022.
ZIMMER, Ben. Edison’s Other Invention: System ‘Bugs’. The Wall Street Journal, 13 dez. 2013. Disponível em: https://www.wsj.com/articles/SB10001424052702303932504579252671620412180. Acesso em: 29 set. 2022.
Referências acadêmicas
KIDWELL, P. A. Stalking the elusive computer bug. IEEE Annals of the History of Computing, vol. 20, no. 4, p. 5-9, out.-dez. 1998, doi: 10.1109/85.728224.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]