Quais foram as primeiras mensagens de voz no Brasil?

Quais foram as primeiras mensagens de voz no Brasil?

As mensagens de voz, no Brasil, são mais antigas do que se imagina: antes mesmo de sua data oficial, no centenário da independência brasileira em 7 de setembro de 1922

 

Redator: Heitor Augusto Colli Trebien

 

Conhecemos algumas informações sobre como o desenvolvimento da comunicação e do telefone aconteceram na Europa e Estados Unidos. Mas e no Brasil? Como essas inovações tecnológicas chegaram aqui? Será que já existiam pesquisas desse gênero em nosso território?

A resposta para essas perguntas é sim, já estávamos investigando formas de ampliar nossa comunicação por meio da tecnologia. Medeiros (2016) ressalta o trabalho do padre Roberto Landell de Moura, um pesquisador da área de física e química de Porto Alegre. 

O inventor nasceu no dia 27 de janeiro de 1861 e faleceu em 30 de julho de 1928. Ele lançou ao público um transmissor de rádio que possibilitou a transmissão da voz via ondas eletromagnéticas. A exposição foi feita na cidade de São Paulo. 

Existe mais de uma fonte que advoga sobre diferentes datas aos experimentos e exposições de Roberto Landell de Moura. Medeiros (2016) defende que os experimentos foram em 1893, antes de Guglielmo Marconi, enquanto Ferreira (2022) e Almeida (2023) afirmam que foi em 1899 e em 1900. Mas antes de continuarmos, quem foi Guglielmo Marconi?

 

O surgimento oficial do telégrafo sem fio

 

Guglielmo Marconi nasceu em 25 de abril de 1874, em Bolonha, na Itália e morreu em 20 de julho de 1937, em Roma. É ele a referência oficial da criação do telégrafo sem fio, ou rádio, em 1896. Ele demonstrou seu sistema em Londres, na planície de Salisbury e no Canal de Bristol.

Em 1897, criou a The Wireless Telegraph & Signal Company Limited (em 1900, renomeada como Marconi’s Wireless Telegraph Company Limited). Nesse mesmo ano, fez uma demonstração para o governo italiano em Spezia, onde demonstrou que os sinais sem fio podiam ser enviados de uma distância de doze milhas.

Em 1901, buscou mostrar que as ondas eletromagnéticas sem fio não eram afetadas pela curvatura da Terra. Para demonstrar sua hipótese, fez a primeira transmissão através do Atlântico entre Poldhu, Cornwall (Cornualha), e a capital de Terra Nova e Labrador (Newfoundland), St. John’s – uma distância de 2100 milhas que conectava a Inglaterra e o Canadá.

Em 1909, recebeu um prêmio nobel de física, o qual dividiu com Ferdinand Braun, físico alemão com quem trabalhou.

 

Qual o lugar de Roberto Landell de Moura na História?

 

Para tentar identificar a importância do padre Landell de Moura na história do Brasil e do mundo, Ferreira (2022) cita as biografias de Hamilton Almeida, as quais trazem documentos oficiais de alguns experimentos do cientista. 

Pelo que pode ser observado, a principal data de registro é 1899, um pouco depois de Marconi. No entanto, foi antes da primeira transmissão de rádio oficial do Brasil, que é 7 de setembro de 1922, o aniversário de 100 anos da independência do Brasil. 

O diferencial do padre é que ele conseguiu transmitir a voz da Capela de Santa Cruz, no Colégio de Santana (em São Paulo), até a Ponte das Bandeiras (Rio Tietê). Fez depois a mesma demonstração em direção ao Rio Tietê, com a presença do cônsul britânico.

Ele provavelmente não alcançou a fama merecida por não ter dinheiro para sustentar suas invenções, como alguns cientistas tiveram (a exemplo de Santos Dumont). 

Nos Estados Unidos, até conseguiu registrar uma patente por transmitir ondas de rádio e feixes de luz, como destaca Rocha (2022). No entanto, junto com a patente, também teve dívidas que demoraram anos para serem pagas.

Quando voltou, não recebeu patrocínio, nem da igreja e nem de instituições públicas. Um dos fatores que pode ter contribuído para não receber investimento foi o estigma de alguns segmentos mais radicais da igreja, que acreditavam que a transmissão da voz pelo ar era coisa do demônio. 

 

Como podemos conhecer mais da história desse gênio brasileiro?

 

Em vida, como Ferreira (2022) e Rocha (2022) comentam, ele não foi muito bem visto, pois ele misturava ciência e religião. Como destacado pelo Jornal da Usp (2022), o jornalista Hamilton Almeida, em entrevista, afirma que o padre difundiu a voz por ondas contínuas, que são versões melhores das primeiras ondas transmitidas e são usadas até hoje. 

Também ressalta que o padre recomendou o uso de ondas curtas para transmissões mais longas, o que não era comum na época. Mas duas décadas depois, o uso das ondas curtas foi aceito como o ideal para esse tipo de transmissão. 

Para conhecer mais sobre essa história, indicamos as obras Padre Landell de Moura, um herói sem glória e Padre Landell: o Brasileiro que Inventou o Wireless, de Hamilton Almeida, jornalista brasileiro. 

 

Referência da imagem da capa

 

Fonte: Foto 93251869 © Jakkapan Jabjainai | Dreamstime.com

 

Referências

 

FERREIRA, Luiz. Cem anos do rádio no Brasil: o padre brasileiro que inventou o rádio. AgênciaBrasil, 31 mai. 2022. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-05/cem-anos-do-r%C3%A1dio-no-brasil-o-padre-brasileiro-que-inventou-o-radio. Acesso em: 16 jun. 2023.  

MEDEIROS, Júlio. Princípios de telecomunicações: teoria e prática. 5. ed. rev. São Paulo: Érica, 2016.

PETERSON, Tomás. Conheça o legado do padre Landell de Moura, pioneiro das telecomunicações. Galileu, 6 set. 2019, atualizado em 21 mar. 2022. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Tecnologia/noticia/2019/09/conheca-o-legado-do-padre-landell-de-moura-pioneiro-das-telecomunicacoes.html. Acesso em: 16 jun. 2023.  

Jornal da Usp. Cem anos nas ondas do rádio. 31 ago. 2022. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/cem-anos-nas-ondas-do-radio/. Acesso em: 07 ago. 2023.

ROCHA, Lucas. Landell de Moura: conheça o padre brasileiro que inventou o rádio. CNN Brasil, 07 set. 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/landell-de-moura-conheca-o-padre-brasileiro-que-inventou-o-radio/. Acesso em: 07 ago. 2023.