Uma linguagem clara e amigável, focada nas necessidades da pessoa, ajuda a diminuir os problemas de comunicação
Redator: Heitor Augusto Colli Trebien
Você já ouviu falar em linguagem simples?
O Plain English (Inglês Simples) ou linguagem simples faz parte de um movimento que começou em 1940, no Reino Unido e nos Estados Unidos. Em 1970, conseguiu se expandir ao redor do mundo.
Na linha do tempo realizada pela Cartilha Como Usar a Linguagem Simples, da Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado (CGE) do Ceará, no ano 2000 a linguagem simples também atingiu os países de língua espanhola, com ênfase no México, e em 2010 tocou a América Latina – Brasil, Argentina, Chile e Colômbia.
Para quem quiser saber mais, Heloisa Fischer, jornalista e pesquisadora, fundou um website chamado Comunica Simples, no qual divulga informações relacionadas à linguagem simples no contexto brasileiro.
Mas o que é a linguagem simples?
No Minicurso de linguagem simples ministrado pela jornalista Heloisa Fischer em 2020 pelo canal do YouTube, sabemos que a linguagem simples é uma causa social e uma técnica de comunicação.
Como causa social, ela defende o direito de todo o cidadão e cidadã de compreender a informação transmitida pelos órgãos de poder.
Como técnica de comunicação, ela é um conjunto de estratégias que tornam os textos escritos mais fáceis de serem lidos. Um dos pressupostos é de que o leitor deve conseguir entender a informação na primeira leitura, sem rodeios.
Importante ressaltar que essas características se referem aos textos que lemos no cotidiano e não às artes, literaturas, entre outros. De modo geral, no dia a dia, precisamos de uma informação rápida que nos ajude a resolver o problema.
A proposta da linguagem simples é redigir um texto informativo no qual a pessoa consiga compreendê-lo para em seguida realizar uma tarefa. Sendo assim, precisa ir direto ao ponto.
Um exemplo prático é a leitura de um jornal. Normalmente os jornais são leituras prazerosas, por serem escritos de uma forma agradável e compreendidos na primeira leitura. Assim, a pessoa consegue se informar de modo mais rápido e fácil.
Em qual contexto a linguagem simples é aplicada?
A linguagem simples pode ser aplicada em qualquer contexto, no entanto, em um primeiro momento, iremos destacar o mais importante: o Brasil. Qual é a situação dos brasileiros atualmente e qual o seu nível de leitura?
O Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) realiza pesquisas em nível nacional para verificar o nível de leitura dos brasileiros. Os dados acessados em 2022 indicam uma estimativa de que 8% da população é analfabeta, 22% está no nível rudimentar e 34% se enquadra no nível elementar.
Ou seja, aproximadamente 64% dos brasileiros têm dificuldade de lidar com informações muito abstratas, o que em muitos casos pode prejudicar a identificação de fake news, por exemplo.
As outras pessoas possuem o nível intermediário (25%) e proficiente (apenas 12%), isto é, aproximadamente 37% consegue realizar comparações abstratas entre diferentes tipos de textos. Sendo assim, os textos públicos devem se preocupar com a maior parte da população para que todos possam compreender a mensagem.
O site do Inaf comentou outro ponto importante sobre usar celulares. 93% dos alfabetizados em nível rudimentar usam o aparelho, o que sugere que os níveis superiores usam com ainda mais frequência para acessar à informação.
O celular, então, deve ser considerado uma plataforma importante de comunicação, em que a mensagem deve estar adaptada ao leitor de acordo com as necessidades dessa mídia.
Os robôs de comunicação automática via celular, por exemplo, podem ajudar a difundir a informação para o público brasileiro, por conversarem atualmente pelo WhatsApp com o usuário.
Como aplicar a linguagem simples?
A Escola Virtual Gov realizou um curso inspirado nas pesquisas de Heloisa Fischer intitulado – Primeiros passos para uso de Linguagem Simples, no qual aponta 7 diretrizes para construir um texto em linguagem simples:
- Empatia: faz parte da ética do escritor ou da escritora – refere-se à capacidade de “se colocar no lugar” do leitor e construir mensagens que sejam entendidas de maneira prática por aquele público específico.
- Hierarquia: é a diretriz que indica que a informação mais importante ou essencial deve vir em primeiro lugar. Depois que a mensagem principal foi transmitida, segue-se com as informações importantes, complementares e auxiliares, como demonstrado na imagem abaixo.
- Palavra conhecida: indica àquelas palavras corriqueiras, mais usadas no cotidiano. Claro, devemos sempre considerar que muitas palavras que fazem parte do meu vocabulário não fazem parte da fala de outra pessoa.
Por exemplo: doravante significa de agora em diante, daqui para frente, a partir de agora, entre outros. Podemos considerar que doravante, apesar de ser conhecida, não é usada com frequência ou de modo corriqueiro.
Assim, sugere-se que os termos mais comuns, como daqui em diante, sejam utilizados para facilitar a comunicação. Evite jargões técnicos e siglas, e se essas formas verbais precisarem ser usadas, explique o que significa.
- Palavra concreta: refere-se aos substantivos concretos e abstratos. Vamos relembrar: os substantivos concretos são aqueles que dão nome às coisas concretas, como animais, pessoas, vegetais, lugares e objetos. Exemplos: flor, academia, escola, prédio, casa, coelho, alface, entre outros.
Os substantivos abstratos indicam características/qualidades, estados de espírito, emoções, sentimentos, ideias, ações, isto é: seres que dependem de outros para existir (no caso, dependem dos substantivos concretos). Exemplos: amor, musculação, pensamento, processamento, alegria, tristeza, entre outros.
Para que a linguagem seja simples, o escritor deve preferir os nomes concretos, por indicarem objetivamente o objeto ao qual se refere. Muitos autores fazem a nominalização, que é o ato de transformar o verbo em um substantivo, o que pode dificultar a leitura.
Por exemplo: “o processamento de dados leva tempo para sua execução”, em linguagem simples – “processar os dados leva tempo para ser feito”.
- Frase curta: indica uma frase objetiva que ajude o leitor a entender e a agir sobre o problema. A diretriz internacional de Plain Language (linguagem simples) sugere que as frases curtas tenham entre 20/25 palavras.
Deve-se destacar que essa quantidade de palavras é uma estimativa, ou seja, alguns textos podem conter mais ou menos palavras e mesmo assim manter a qualidade de compreensão.
Mas é importante ter uma média para podermos nos orientar sobre o excesso ou a falta de palavras usadas em determinado contexto.
- Frase na ordem direta: é aquela que segue a ordem – sujeito, verbo, complemento. De modo geral, a ordem direta facilita a compreensão do texto, sendo assim, procura-se evitar o uso excessivo de ordem indireta e de orações intercaladas. Por exemplo:
Oração intercalada: A Velip, por meio de robôs digitais, oferece serviços de comunicação automática. (Sujeito + Complemento + Verbo e Complemento)
Ordem indireta: Por meio de robôs digitais, a Velip oferece serviços de comunicação automática. (Complemento + Sujeito + Verbo e Complemento)
Ordem direta: A Velip oferece serviços de comunicação automática por meio de robôs digitais. (Sujeito + Verbo + Complemento)
Observa-se que a ordem direta (OD) é mais fluida, sendo uma leitura de uma via: entende-se de primeira o sentido da mensagem.
- Diagnóstico: é a checagem de texto. O redator confere se existe algum elemento que atrapalha a leitura. O revisor deve procurar problemas como: palavras pouco corriqueiras, ordem inversa, nominalização (transformar verbo em substantivo), abstrações excessivas e frases longas que acabam por desconsiderar o real leitor da informação.
Todas essas informações podem ser aplicadas aos robôs de comunicação automática. Por exemplo, se nos depararmos com uma resposta muito grande, podemos dividi-la em parágrafos menores para que as ideias sejam bem separadas e visíveis aos usuários.
Podemos usar, com cuidado, emotes que ajudem a ilustrar a mensagem, além de gifs e vídeos. Outro recurso importante é a voz: com a escuta, a mensagem pode ser compreendida mais facilmente, desde que esteja bem alinhada com um texto simples de ser entendido.
Para quem quiser saber mais, acesse a reportagem do Programa Sem Censura com Heloísa Fischer – Linguagem Clara na TV Brasil
REFERÊNCIAS
CEARÁ (Estado). Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado do Paraná (CGE). Laboratório de Inovação e Dados do Governo do Ceará (ÍRIS). Cartilha como usar a linguagem simples: tornando as comunicações internas e com a sociedade mais fáceis de ler e entender. Out. 2021. Disponível em: https://www.google.com/url?q=https://www.cge.ce.gov.br/cartilha-como-usar-a-linguagem-simples/&sa=D&source=docs&ust=1659101232045810&usg=AOvVaw3Skz-9L-nP2cRTgWoOnQ4I. Acesso em: 28 jul. 2022.
São Paulo (Cidade). (011)lab Laboratório de Inovação em Governo da Prefeitura de São Paulo. Programa Municipal de Linguagem Simples. Apostila do curso: Linguagem Simples no Setor Público. Julho, 2020. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/handle/1/6181. Acesso em: 28 jul. 2022.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]