Alberto Santos-Dumont: inovação e legado além das alturas
Redator: Heitor Augusto Colli Trebien
O dia 20 de julho de 1873 é a data de nascimento de Alberto Santos-Dumont no Sítio do Cabangu, em Palmira, Minas Gerais. Ele foi um proeminente brasileiro, reconhecido como o pai da aviação. Seu legado inclui a criação e pilotagem do icônico 14Bis. Mas o seu legado, além do avião, envolve várias curiosidades.
Em 23 de julho de 1932, faleceu em Guarujá, São Paulo. De acordo com Luciana Garbin (2015), além do 14 Bis, a lista de inovações notáveis de Dumont engloba a concepção de balões, dirigíveis, helicópteros e o avião Demoiselle, outra extraordinária realização desse cientista.
Santos-Dumont era não apenas um inventor, mas também um ícone da moda na França, onde introduziu novas tendências de estilo. Ele é conhecido por encomendar o primeiro relógio de pulso, pela preferência por colarinhos altos acompanhados de um corte de cabelo dividido ao meio, e pelo seu célebre chapéu panamá amassado.
O relógio de pulso
Alberto Santos-Dumont também foi o pioneiro do relógio de pulso. Em sua época, era usual para os homens portarem relógios de bolso. No entanto, para Dumont, que precisava cronometrar o tempo de voo enquanto manuseava os controles do avião, era necessário um recurso mais prático.
Com o intuito de resolver essa dificuldade, ele improvisou, atando o relógio ao pulso com um lenço. A solução, embora útil, era desconfortável e pesada, motivando Dumont a buscar um modelo mais adequado. Para isso, ele recorreu ao seu amigo Louis Cartier (1875-1942), solicitando a criação de um relógio de pulso leve e confortável.
Em 1904, Cartier, renomado relojoeiro e joalheiro francês, atendeu ao pedido e criou um relógio de pulso para Dumont, uma invenção que se mantém relevante até hoje pela sua praticidade. O relógio foi batizado de “Santos” em homenagem ao amigo Dumont e começou a ser comercializado em 1911, na boutique da Rue de la Paix, em Paris.
Chapéu panamá amassado
A curiosa história desse chapéu teve início com um incidente durante uma viagem no dirigível número 9. Quando o motor do dirigível incendiou, Santos-Dumont usou seu chapéu para sufocar as chamas.
O calor distorceu o formato do chapéu, mas mesmo assim Dumont o colocou de volta em sua cabeça. Capturado nesse estado pelos fotógrafos, o chapéu amassado se tornou sua marca distintiva. O estilo de Santos-Dumont era tão apreciado na França que o uso do chapéu nessa forma se tornou uma tendência.
Assinatura
A evolução da assinatura de Santos-Dumont demonstra uma perspectiva interessante. Mesmo sendo uma celebridade em Paris, ele desejava evidenciar sua origem brasileira. Por isso, inicialmente, ele adotou o hífen em sua assinatura – Santos-Dumont – para unir seus dois nomes. Posteriormente, substituiu o hífen pelo sinal de igual: Santos=Dumont. Com essa alteração, ele pretendia simbolizar que o Brasil estava em pé de igualdade com a França.
Encantada, a casa em Petrópolis
A inventividade de Santos-Dumont se estendia além das máquinas voadoras. Ele mesmo projetou sua residência em Petrópolis, onde desfrutou de períodos de descanso até o ano de sua morte, em 1932. A casa, construída em 1918, refletia o estilo alpino francês, algo inovador para o contexto brasileiro da época.
Com foco na praticidade e adaptada às necessidades de seu único morador, a casa de Santos-Dumont demonstrava também seu amor pela natureza. Construída em um terreno íngreme e cercado de floresta, a residência possuía três andares e uma estrutura baseada em peças únicas, destacando-se ainda por seu terraço.
O térreo da residência de Santos Dumont servia tanto como oficina para pequenas reparações como laboratório fotográfico, reflexo de sua paixão pela fotografia além das máquinas.
Ele costumava capturar imagens do voo dos pássaros, sua principal fonte de inspiração para suas invenções voadoras. Surpreendentemente para a época, a casa contava com um medidor de energia monofásico, sendo um dos raros imóveis equipados com eletricidade.
O acesso ao piso superior da casa era garantido por escadas íngremes e estreitas, com degraus recortados semelhantes às raquetes, projetados para evitar lesões nas canelas ao subir.
Era imprescindível iniciar a subida com o pé direito, um fato que levou muitos a interpretarem como superstição. No entanto, o propósito real era fornecer um impulso inicial com a ajuda do corrimão, reafirmando o caráter prático e eficiente da moradia.
Cataratas do Iguaçu
Santos Dumont desempenhou um papel crucial na transformação das Cataratas do Iguaçu no parque público brasileiro que conhecemos hoje. Até 1916, as cataratas eram de propriedade privada do uruguaio Jesus Val.
Ciente desta situação, Santos Dumont viajou para Curitiba com uma proposta para o presidente do Paraná, Affonso Alves Camargo, para desapropriar a área e estabelecer um parque público. Ele foi recebido em 8 de maio e sua sugestão foi bem acolhida. Em menos de 80 dias, o decreto 653, datado de 28 de julho de 1916, foi promulgado, colocando em prática a ideia do aviador.
Após a intervenção de Santos Dumont, o acesso à região se tornou mais simples e o interesse do Estado na área aumentou, agora oficialmente brasileira. O Parque Nacional do Iguaçu foi instituído em 19 de janeiro de 1939, por meio de um decreto do então Presidente da República, Getúlio Vargas.
Em tributo a Santos-Dumont, uma estátua de sua altura foi erguida junto às cataratas em 1979. Mais tarde, em 1986, a UNESCO honrou as Cataratas do Iguaçu com o título de Patrimônio Natural da Humanidade.
Exemplo de inovação
Alberto Santos-Dumont foi um verdadeiro exemplo de inovação, deixando um impacto indelével na história da humanidade. Como um pioneiro da aviação, ele desafiou as convenções de sua época e rompeu as fronteiras do que era considerado possível. Seu ousado 14Bis e suas outras inventividades são testemunho de sua capacidade de pensar além do convencional e criar soluções inovadoras para os desafios da época.
Santos-Dumont incorporou o espírito da inovação, não apenas em sua obra, mas em todos os aspectos de sua vida. Seu legado continua a inspirar gerações a pensar fora da caixa, a desafiar o status quo e a buscar novas formas de abordar os desafios.
Referência da imagem de capa
Fonte: Foto 104196336 © Sergei Nezhinskii | Dreamstime.com
Referências
BARROS, Henrique Lins de. Santos Dumont e a Invenção do Avião. Rio de Janeiro: CBPF, 2006.
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GARBIN, Luciana. Especial Santos-Dumont. Estadão, 03 nov. 2015. Disponível em: https://infograficos.estadao.com.br/especiais/a-redescoberta-de-santos-dumont/. Acesso em 16 ago. 2021.
SANTOS-Dumont, Alberto. Os meus balões (“dans l’ air”). Tradução do original francês por A. de Miranda Santos. – 2. ed. – Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2016. 348 p.: il. – (Edições do Senado Federal); v. 198). Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/530469.
VESSONI, Eduardo. De chuveiro quente ao aeroporto: as criações de Santos Dumont além do avião. Nossa Uol, 20 jul. 2023. Disponível em: https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2023/07/20/de-chuveiro-quente-ao-aeroporto-as-criacoes-de-santos-dumont-alem-do-aviao.htm. Acesso em: 20 jul. 2023.