A Psicologia é um campo muito diverso, que continua crescendo. Existem as áreas mais clássicas, como a psicoterapia clínica com abordagens reconhecidas pelo público, a saber: a Psicanálise e a Comportamental. Os psicólogos também atuam nas organizações, nas instituições jurídicas, nas escolas, no trânsito e sobre o ambiente em que vivemos e nos relacionamos.
Além dessas áreas citadas, a psicologia tem uma história com a inteligência artificial e as ciências cognitivas. Quem tiver interesse, o filme O Jogo da Imitação traz algumas questões sobre a comparação da mente humana com a máquina. Durante a obra cinematográfica, Alan Turing afirma: “é claro que as máquinas não podem pensar como as pessoas, uma máquina é diferente (…), logo elas pensam diferente”. Em seguida, ele questiona: “Só porque algo pensa diferente de você, isso significa que ela não está pensando?”
Esse questionamento impacta não só toda a ciência, mas a sociedade como um todo. O robô, assim como o ser humano, também pode aprender, estabelecer conexões e emitir respostas de acordo com cada contexto. Como Turing disse, o artificial é diferente do natural, mas quais são essas diferenças? Será que conseguimos defini-las?
Primeiro, é importante considerar que o robô “pensa” de modo parecido com o ser humano: o construímos com o apoio da lógica, do pensamento lógico. Construímos algo que se assemelhe ao nosso comportamento e que possa ser programado de modo semelhante. A partir de algoritmos, a máquina “percebe” padrões que consegue solucionar, resolver a partir da probabilidade, sendo uma imitação de como pensamos para resolver problemas.
O novo relacionamento entre homem e máquina
Na atualidade, observamos a ascensão da 4ª Revolução Industrial, que coloca um novo olhar sobre o homem e sua relação com a máquina. Hoje, pensamos como a máquina pode servir às necessidades humanas. As máquinas vêm sendo criadas para se adaptar ao que precisamos. Nada de ficar se batendo para conseguir usar o aparelho, ele deve ser prático, rápido e acessível, pronto para te ajudar a resolver o problema sem criar outro.
Com essa revolução tecnológica, robôs conversam com a gente. Bom, se eles podem até falar com a gente, poderiam ser considerados um bom recurso no alívio do sofrimento emocional? Ou ainda, será que poderiam realizar sessões de psicoterapia?
A resposta para essas perguntas é bem longa e envolve uma ampla discussão ética sobre o trabalho do psicólogo. Já existem algumas tecnologias voltadas para a saúde mental, só para citar alguns exemplos: a Youper, a Vitalk, a Happify, a Woebot e a WhatsUp. Novos programas também vêm sendo criados, ou seja, a evolução tecnológica veio para ficar.
Mas vamos refletir um pouco sobre esse boom tecnológico, essa tal ‘terapia artificial’. Na prática, ela é de fato artificial. Não fazemos terapia com o robô, mas com a equipe responsável pela elaboração das respostas. Percebe o dilema ético? O robô seria o mediador, afinal, ele é programado para responder e orientar as pessoas, assim, o programador é quem estaria pensando em como resolver problemas. Imagine como seria estranho fazer terapia com alguém que nunca vimos e não sabemos quem é?
Entretanto, não podemos desconsiderar a importância dos aparelhos digitais nas nossas vidas. Uma importante atuação desses ‘humanos artificiais’ é a de atingir as pessoas de uma forma que um ser humano comum não conseguiria sozinho. O programa seria, então, um mediador, e além disso, um recurso para ajudar o trabalho das pessoas. Não pensamos que ‘substituição’ seja a palavra adequada, mas ‘apoio’ parece ser um pouco mais preciso.
A máquina, na verdade, não irá substituir o psicólogo, mas ajudá-lo a alcançar o paciente. Assim, a Inteligência Artificial auxilia não só o profissional, mas os clientes. A troca humana nunca deixou de acontecer, mas foi ampliada a um nível tecnológico jamais visto até o momento. Talvez seja interessante pensar nesse atendente virtual como um diário. Aproveite e leve ele para conversar com seu terapeuta. Mostre a conversa em tempo real, quem sabe o que pode nascer disso?
REFERÊNCIAS:
ARAUJO, Saulo. Mentes e máquinas, ou o que tem a Inteligência Artificial a nos dizer a respeito dos fundamentos da Psicologia? Psicol. USP, vol.10, n.2, São Paulo, 1999.
COSTA, Dalton. Inteligência Artificial nas Ciências da Saúde: aplicações na psicologia e psiquiatria. Ensina AI, 26 ago. 2019.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL e psicologia: qual é o seu vínculo? A Mente é Maravilhosa, 30 mai. 2020.
MARASCIOULO, Maria. ‘Terapia com robô’: inteligência artificial minimiza transtornos mentais?. TAB Repórteres na rua em busca da realidade, 18 abr. 2020.
MORAIS, Résia. Psicologia e a Inteligência Artificial. Cult, 23 abr. 2019.
O JOGO da imitação. Direção de Morten Tyldum. Estados Unidos da América: Diamond Films, 2014. 114 min.